Vai ver que é por que o coração vai endurecendo,
năo vejo como antes
as luzes de natal que via
quando era pequeno.
E estão onde estiveram sempre
mas, independente, o olhar, tem preferências.
Obscuras. Inconscientes.
Por exemplo, eu não tinha no olhar esse peso
que acho que todo adulto vai ganhando.
Antes o olhar, como que voasse,
passeia sem medo de cobrança.
Porém com o tempo o olhar vai vestindo
uma famosíssima e pouco discutida e percebida
necessidade vaidosa.
E cuidadoso vai ficando.
É pelo o olhar o marco de quando a vida vai ficando cada vez mais merda.
E eu vou ficando também mais merda...
Essa vida pega, delicada,
de nuance, gradativa...
E choro por uns tantos que já se foram.
E não me despeço de alguns outros por que me fui.
Hoje as luzes piscam e o que eu vejo é já tão pouco.
A referência é a saudade.
Do cheiro de dez anos.
Os que se preocupam em expô-las também tampouco.
Amanhã verei menos ainda
e depois talvez não as verei por completo.
E todos seguiremos até quando nesse contemplar tão mecânico?
Chorar que é injusta a vida por tantíssimas sensações doloridas,
intangíveis além do verbo, vai se tornando sem sentido também.
Cada vez mais sem sentido.