Nada pode contra está noite
e em si ela é infinita.
Tem o poder de concha
e protege do amanhã,
que só virá quando se quiser.
Ela é segura como ninguém jamais fora
e escura com toda a firmeza de um trem - ou qualquer outro grande corpo em movimento.
É uma ilha intangivel as dores do mundo
e as cabeças de pensamentos turvos.
Pois tudo que ela não é: turva.
Tão pouco inconclusa.
É, sim, tranquilizadoramente clara.
Porque só da uma resposta que é o escuro.
O escuro e a sua simplicidade.
E se basta nesta resposta simples.
O escuro embora comporte,
como cartola de mágico,
todos os objetos do mundo,
se você olhar no fundo no fundo, por uns minutos
(mas tem que ser por uns minutos)
ele diz objetivamente sempre umas coisas muito muito claras.
Tal como que nossa nudez é mais bonita que a roupa mais cara
e até mais rica que o melhor dos discursos.
Tal que a nossa solidão
tem por função
ser também tão preenchedora quanto qualquer multidão.
Tal que nosso medo pode ter
o tamanho do nada ou o tamanho do mundo.
Tudo isso é dito no escuro.
De todos os quartos de todas as casas
até das senhoras mais ricas.
No escuro pleno, é o seguinte,
as perguntas são engolidas pelas respostas antes mesmo que as primeiras se formem.
Nesse plano não há o que se contrarie,
pois as respostas tem o tamanho de gigantes gasosas
e, assim como estas, propriedades específicas incompreensíveis ao pensar,
mas compreensíveis ao sentir humano mais pueril.
Ao sentir humano menos raptado pelas durezas do mundo.
Do mundo que os homens constroem mais quando não se sabem.