Sobre ser o outro
a pior coisa não está ao alcance das mãos.
Também nem à mais complexa e abrangente linguagem ou literatura,
que quase peitam mas não atingem em cheio.
Por que aquele tal vai arrumar sempre desculpa pra sê-lo como o é.
E achar que soube certinho ser como um outro.
E uma gorjeta generosa é aquela quantia que deu no bar.
E nenhuma mesquinheza, ao contar todo dia o seu dinheiro, é de fato uma mesquinheza.
Pois que dois contos lhe doe tanto e, nem sabe-se consciente disso:
alguns poucos trocados indo embora pra coisa tão não ele.
E dois contos valem de mil maneiras.
Portanto é O generoso dos generosos.
Até que se prove o contrário,
e nada provará o contrário.
Este generoso tem um referencial tão dentro de algo tão hermético que é o seu ser.
Afinal nunca foi um outro.
Embora já tenha beirado e vez ou outra, com força, se comovido, e até, chorado e doído daquela dor do outro.
O que supõe se-lá.
Mas o negócio mais difícil de tudo é ser o outro.
Essa coisa de fugir de si
ao extremo oposto
e não ser o que sempre fora.
Isso é até pedido e difundido aos quatro cantos do mundo e das propagandas de televisão e outdoor.
Mas é enfaticamente necessário ser o outro ao invés de simplesmente se importar com o outro.
Mas o negócio mais difícil do mundo é ser um outro.
Por isso que eu acho que o ser humano precisaria de duas vidas, no mínimo.